Estás a ouvir-me?

14.1.15

Na rádio vinha a ouvir a notícia da morte de um jornalista e voltei a pensar em todos os que perderam a vida agora em Paris e em todos os que nos vão deixando nestas guerras sem sentido. Daí à memória da minha mãe foi um passo. Senti-me uma criança pouco mais velha que os meus filhos porque me assaltou de repente o medo irracional de que ela não me consiga ouvir lá em cima, com tanta gente a chegar.
Acredito que ela olha por mim, por nós, e acredito tantas vezes nisso que dou por mim a trocar ideias com ela, ainda que no silêncio barulhento que tantas vezes é a minha cabeça. Acredito com uma certeza praticamente inabalável e é também essa certeza que me faz tentar ser melhor a cada dia apesar de nem sempre conseguir.
Não sei bem como pôr em palavras este sentimento de que sempre fui muito filha. Mesmo depois de ter sido mãe. Como se nalguma parte de mim continuasse a ser a criança e não houvesse adulto. E é essa criança em mim que ainda hoje se sente órfã. Viver já é tão complicado por todas estas coisas que às vezes dou por mim com vontade de ralhar-me a mim mesma por dar importância a coisas que não têm um pingo de importância para o correr dos meus dias.
Eu sei que me estás a ouvir, mesmo quando eu não falo. Mas para que saibas sem sombras de dúvida: fazes-me falta todos os dias. Mesmo naquelas coisas que eu achava que não precisava de ajuda. Era casmurrice minha, desculpa. E desculpa se nem sempre consigo fazer as coisas da melhor maneira. Fazes-me muita falta.

8 comments:

  1. Gosto muito de seguir este teu Blog, nunca comentei... Mas hoje, este post... Deu para correr uma lagriminha, eu também sou muito filha. E morro de medo de um dia deixar de ser.
    Beijo

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  2. Que texto comovente (mas muito bonito) ... que fez estremecer o meu coração!

    Beijinhos,
    Ana Cláudia

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  3. que texto lindo! Muitas das vezes as pessoas que mais amamos são as primeiras a partir

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  4. como te compreendo Patrícia. mas sim, ela ouve...

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  5. Um beijinho a todas. A maior parte dos dias consigo passar sem "falar" sobre isto mas depois há um dia em que as saudades não me deixam ficar calada.
    Assim é a vida...

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  6. Muito comovente. Nem tenho palavras... Muitas vezes não valorizamos o que temos e preocupamo-nos com coisas tontas e ridículas.

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  7. Li, senti e fiquei a pensar com um nó na garganta... desde que fui mãe que penso muito neste assunto. A vida é tão bonita e ao mesmo tempo tão angustiante...Ultimamente a minha filha tem perguntado se vamos acordar todos os dias, se quando ela for velhinha nós vamos tratar dela...que precisa muito...
    Também eu sou filha. Por 2 vezes pensei que não ia ver mais a minha mãe, mas ela foi forte e recuperou. É reconfortante saber que a tenho, mas sinto que por vezes não aproveitamos como devíamos...
    Ela ouve Patrícia! O coração de mãe está para sempre ligado aos corações dos filhos. Sempre!
    Bjs

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